segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Um ano de Toronto - impressões que se confirmaram e impressões que mudaram

Primeiramente, parabéns para nós pelo primeiro ano de Toronto. Yeyyyyyy...

Segundamente... muito se diz sobre morar fora, muito se diz sobre o Canadá e é só morando um tempo aqui é que a gente vê como a vida realmente é.

Antes de vir, eu lia muito sobre o que os outros falavam sobre Toronto e o Canadá em geral e eu estava louca querendo viver tudo isso que todo mundo diz.

Sei que um ano ainda é muito pouco para mudar ou dar certeza sobre impressões do passado, mas vou falar sobre esse ano e talvez isso vire uma tradição de comemoração de anos aqui hahahahha
Vamos comparar a evolução disso, ne?!

No dia 05 de setembro, uma semana da nossa chegada, eu fiz um post desse com minhas impressões iniciais. Vou comentar os tópicos desse post e incluir alguns outros.

Eu, inclusive, pedi para o Kalil me falar das impressões dele também, então esse post tem o meu olhar e o olhar dele também. 

1- O clichê país de imigrantes
Nicole: Esse assunto realmente se confirma todos os dias. Apesar de vermos alguns canadenses nativos, quando conversamos com eles descobrimos que os pais são imigrantes e, para dizer bem a verdade, eu nunca conheci nenhum canadense de sangue e com mais de uma geração por aqui. 
O Canadá realmente abre as portas para o estrangeiro e isso é bom e ruim ao mesmo tempo.
É bom porque a gente conhece diversas culturas em uma só e tem a oportunidade de viver o mundo todo diariamente.
O ruim é que o Canadá se torna país de todo mundo e não tem uma cultura própria. Ele não tem comida típica (só o Poutine e o Maple Syrup), não tem música ou dança típica, não tem particularidades. Ele é um país de todos e ao mesmo tempo país de ninguém.

Kalil: "continuo achando que é um país de imigrantes, mas que não é um país muito aberto". O Kalil teve umas experiências negativas com relação a não sermos canadenses. Ele tentou algumas vagas de emprego que tinha como condição principal ser cidadão canadense, o que mostra que o imigrante não é tratado como um nativo como é pintado por todo mundo quando fala do Canadá.
Outro exemplo é quando tentamos alugar nosso apartamento e tivemos que antecipar cinco meses de aluguel porque não tínhamos credit score ou referência. Eu meio que entendo o lado do landlord nesse caso, porque não conseguimos provar que temos condições de arcar com o aluguel do contrato, mas por outro lado isso gerou um rombo significativo nas nossas economias. Um país que se diz tão aberto para outras culturas e nações já devia ter criado um órgão de ajuda ao imigrante para resolver a questão do seu primeiro aluguel, porque, apesar dessa solicitação de cinco meses adiantado ser contra a lei, é uma coisa que acontece normalmente e ninguém se preocupa com isso.

2- O frio é de morrer
Nicole: Bom, não sei se é porque foi o meu primeiro inverno e a primeira vez que convivi com neve, mas eu amei de verdade. Sou uma pessoas extremamente friorenta e eu simplesmente AMEI viver o inverno daqui. No finalzinho, quando o inverno já tinha efetivamente ido embora e apenas o frio estava aqui, estava bem chato para ser sincera. Depois de tantos meses de bota fechada, casacos fechados, touca e luvas, tudo o que eu queria era shorts e chinelo. Mas não é o frio que estava chato, eu só queria mudar um pouco o estilo de roupa que estava usando. 
A bota fechada e o casaco fazem com o que os pés e os braços não respirem ou vejam a luz do sol. É muito incômodo e deixa a cor da pele com aspecto de doente. 
Usar touca o tempo todo e todos os dias faz com que o cabelo caia e fique esquisito por um tempo. Sem contar que lavar o cabelo e secar no secador todo santo dia é muito trabalho e chato.
E as luvas impedem que a gente use anel (sem contar que fez a pedra do anel que acompanha minha aliança cair. Meu dedo é muito fino e a curvatura de onde fica o anel é grande, então ajudou a cair. ÓDIO!!).
Mas no geral eu amei realmente o frio. Estamos no verão e desde maio a temperatura está bem agradável (após algumas semanas de um calor abafado horroroso), e mesmo amando esse tempo também, admito que estou ansiosa com o frio novamente. Talvez eu me arrependa disso lá para março, mas estou contando os dias para o inverno novamente hahahaha

Kalil: para o Kalil foi ótimo, porque ele já gosta de frio de qualquer forma e odeia o calor. Enfrentamos um frio de matar aqui (-25o com sensação de -35o) e ele achou super aceitável. Apesar de ele normalmente não sentir o frio que eu sinto, uma temperatura tão negativa assim deveria mexer com ele, ne?! Mas não mexeu. As roupas aquecem e os ambientes internos são preparados para isso e, mesmo ele tendo aula praticamente durante todo o inverno tendo que andar de metrô e de ônibus para ir à faculdade, o frio nunca foi um problema e eu realmente nunca o ouvi reclamando.

3- O trânsito
Nicole: É, realmente o trânsito daqui é horroroso. Principalmente para quem mora no centro. 
Antes de vir para cá, eu li muito que o canadense é roda dura e péssimo motorista, mas isso eu acho que não reparei muito não. Tudo bem que eu dirigi apenas uma vez aqui, mas pelo que eu vejo o problema não é exatamente o motorista. Eu já falei sobre isso antes, mas as leis de trânsito são muito esquisitas aqui, acho que principalmente para incentivar as pessoas a usarem o transporte público, então é tudo muito confuso e o trânsito não anda. Sei lá!
Como eu não tenho carro e não sinto necessidade de ter, isso é uma coisa que realmente não me importa e que não me incomoda.

Kalil: para ele foi normal, nada fora do comum, talvez até melhor que o Brasil. As pessoas respeitam mais as leis de trânsito, mas os taxistas realmente tem o mesmo sangue que em qualquer lugar do planeta, são tão atrevidos quanto no Brasil. Se voce ouvir buzina aqui, pode ter certeza que é um taxista.

4- O canadense é muito educado
Nicole: O canadense é educado sim, mas não vivi realidades de educação acima do que a gente espera de todo ser humano não. Não sei se é porque eu moro em Toronto e tem uma concentração ABSURDA de gente de fora, e consequentemente de muitas culturas, mas eu não vi o SORRY e EXCUSE ME abundantemente não. É uma educação normal. Pessoas pedem licença e desculpa como uma pessoa normal. Nada de extraordinário.
Isso realmente me deixou um tiquitim frustrada, porque já li que em Vancouver as pessoas são mais educadas. Aqui em Toronto no geral é uma cidade grande como qualquer outra e não acho que essa questão de educação exacerbada conseguiu entranhar muito não.

Kalil: ele não acho nada demais. Algumas pessoas são realmente muito educadas, mas outras não são. Na primeira vez que a gente veio, ele sentiu isso mais evidente; hoje ele sente que diminuiu. A impressão dele é a mesma que a minha, como tem muito imigrante essa característica canadense tem morrido aos poucos, o pessoal de fora está vindo e está fazendo Toronto perder esse esteriótipo.

5- Canadá é 120% seguro
Nicole: Olha, pode ser que esse ponto em específico choque muita gente, até mesmo quem mora aqui, mas eu não me sinto 100% segura aqui não. O fato de eu andar à noite na rua sozinha, mexer no celular no centro e andar pra cima e para baixo de metrô e ônibus não significa que eu me sinta 100% segura.
Não é apenas porque eu tenho o sangue de brasileiro e tenho pé atrás com todo mundo e costumo andar na rua olhando por cima do ombro não.
Eu realmente já vi algumas coisas acontecerem e eu leio muita norícia do que acontece por aqui para saber que tem assalto sim, que tem roubo sim, que tem tiroteio sim, que tem assassinato sim.
É ÓBVIO que não é igual no Brasil, gente, não é isso. Eu me sinto segura o suficiente para ter certeza que vir para cá foi a escolha certa, mas aquela sensação de que aqui é o lugar mais seguro do mundo eu não tenho.
Pode ser que eu me sinta assim porque moro no centro, não sei, mas a realidade aqui é diferente do que pintam em textões sonhadores no facebook.
Isso foi o maior choque de realidade negativo que eu tive e espero que ao longo da vida isso se acalme dentro de mim.

Sei que no momento Toronto está vivendo uma realidade diferente e mais violenta que o normal, com muitos assaltos, violência e tiroteios. O governo já está se mexendo para mudar isso, a gente vê mais policiais na rua, a gente lê sobre estratégias de conter esse aumento de armas e etc, mas enquanto essa questão não se resolver, eu realmente me sinto PÉSSIMA. Estou torcendo para isso mudar, porque se não mudar, daqui uns anos eu vou querer sair daqui COM CERTEZA.

Kalil: ao contrário de mim, o Kalil ainda acha que Toronto é MUITO segura. Ele se sente bem e não tem medo. Ele mantém os cuidados e atenção, mas em comparação com o Brasil (que é a que a gente tem) é realmente outro mundo.

6- O Path
Nicole: Eu adoro a existência do Path, que é a cidade subterrânea, mas para ser sincera eu não uso muito não. Nem durante o inverno eu usei. 
É uma mão na roda para se usar durante o inverno tenebroso e as temporadas de neve, mas quando nevava durante o inverno eu só queria saber de estar na rua. Se eu falar que não usei o Path NENHUM DIA DO INVERNO vocês acreditam? Eu amoooooo a neve, gente!!!! Eu usei algumas vezes durante a temporada de chuva, mas não muito também não.
Mas de qualquer forma, ele é ótimo e lá você encontra tudo o que precisa, e para mim e o Kalil que moramos no centro é ainda melhor, porque a gente consegue acessá-lo atravessando a rua e tudo é muito perto e muito prático.

Kalil: "Melhor coisa que já inventaram". Agora que ele está trabalhando no shopping e que ele acessa 100% via Path é que ele está amando mais ainda. Se está calor de matar, ou chovendo, ou um tempo esquisito, ele pega o Path e rapidinho está aqui em casa. Só sai do lado de fora para atravessar a rua e entrar no nosso prédio. Ele realmente usa muito mais que eu.

7- Saúde canadense
Nicole: Eu não posso opinar quanto a isso porque nunca usei, mas sei que aqui é bem mais complicado que o Brasil, que a gente liga para um ginecologista, um otorrino, ou qualquer outro médico especialista e marca uma consulta. 
Aqui você tem que ir no seu médico de família (como o nome diz, é o médico da sua família), ele te examina e só depois que ele te encaminha para um médico especializado, a não ser que você queira enfrentar a fila de uma emergência, que já ouvi falar que é igual no Brasil, a pessoa tem que separar pelo menos quatro horas para ser atendido.

Kalil: ele também nunca usou, então não tem muita opinião sobre isso.

Outros pontos sobre Toronto que eu não esperava ver por aqui:

* Homeless
Nicole: Isso não é uma impressão que eu tinha ou não tinha antes de vir.
Aqui no centro tem muito homeless (pessoal que mora na rua, mendigo). É muita gente mesmo. É para assustar, porque no Brasil a gente estava acostumado a ver pivete e ladrãozinho (o que não chega a ser melhor de jeito nenhum), mas não era assim tão comum ver gente morando necessariamente na rua (pelo menos na área que eu trabalhava e frequentava em Belo Horizonte). Aqui tem demais, inclusive no inverno. Apesar de a cidade disponibilizar muitos abrigos para essas pessoas na época do inverno e do verão tenebroso, muitos continuam dormindo na rua e isso é triste.
Entendam que eles não são ladrões. Eles geralmente são pessoas com algum distúrbio mental (que tem aos montes aqui também), drogados ou apenas pessoas que não tem onde morar. 
Outro dia eu me assustei ao ver um homem dormindo na rua em seu colchão, com a mochila servindo de travesseiro, um copinho do Tim Hortons para quem quisesse deixar um dinheiro para ele ao lado de um livro do Stephen King. Quando eu voltava do serviço, esse homem já tinha acordado e estava sentado no mesmo lugar lendo seu livro. Isso realmente me chocou. 
Eles pedem dinheiro, mas não agem da forma como no Brasil não. Eles ficam ali na boa no canto deles com plaquinhas pedindo dinheiro. Nada de pedinte que encosta na gente ou que chega diretamente em nós.

Kalil: ele acha que é realmente um problema muito grande. Ele achou que não ia chegar a incomodar, mas incomodam porque tem vários que são doidos e gritam na rua, são um pouco violentos e são meio sem noção. Os que ficam de boa com as plaquinhas pedindo ajuda está tudo bem, mas os doidos realmente incomodam.

* Toronto é muito caro
Nicole: Meu Deus do céu. Vocês não tem ideia como as coisas são caras aqui.
O aluguel está pela hora da morte, supermercado é caro, comer fora é caro, planos de celular não são baratos. O custo de vida em Toronto é MUITO ALTO. 
Se quiser recomeçar sua vida aqui, se prepare para pagar caro em um apartamento MINÚSCULO, seja em downtown ou fora da cidade. Outro dia li uma reportagem que muita gente decide morar na grande Toronto para tentar fugir dos valores abusivos de aluguel, mas que isso está gerando um aumento significativo no valor de aluguéis de lugares fora da cidade. A cada dia isso aqui está pior. Não é atoa que tem muito homeless aqui e se continuar a aumentar, qualquer dia Toronto terá mais dois, eu e o Kalil.

Kalil: ao contrário de mim, ele concorda que é caro, mas não é assim tão de outro mundo, afinal de contas a gente com nosso emprego em loja está sobrevivendo sem problemas. Não estamos esbanjando nem nada, mas também não estamos morrendo de fome e nos privando de tudo, afinal de contas a gente sai pra comer de vez enquando sim.

* A desigualdade social por aqui é mínima
Nicole: Não é que seja necessariamente mínima, até porque existem muitos homeless e existe muito pobre e muito rico/milionário e etc.
Porém, quando você ouve que no Canadá um garçom pode morar no mesmo prédio que o diretor do maior hospital da cidade, isso é verdade.
É lógico que aqui também tem bairro de pobre e bairro de rico, mas isso não é extremo e evidente igual é no Brasil. Muitas vezes uma pessoa rica pode ser vizinha de uma pessoa pobre e ambos frequentam os mesmos lugares. Isso é muito legal.

Kalil: Ele concorda que é pequena porque as pessoas são iguais, não se vê tanta disparidade, já que todo mundo anda a pé, pega transporte público; não tem aquela ideia de que quem pega ônibus/metrô para trabalhar tem menos condição financeira que quem vai de carro. Esse tipo de impressão não existe aqui. Todo mundo tem condições de frequentar os mesmos lugares.


Bom, acho que está bom de comentários sobre o que vimos e sentimos aqui nesse primeiro ano. Infelizmente eu posso dizer que me decepcionei um pouquinho com a cidade. Não sei bem o motivo do porquê, acho que criei um sonho muito ilusório na minha cabeça e esperei demais. Acho que o início desse segundo ano será melhor para minhas espectativas.
Eu conversei com o Kalil um dia desses sobre morar no centro e acho que vamos nos mudar daqui quando ele formar. Queria morar em um lugar que seja próximo de tudo, mas que não seja no centro, talvez até em uma das cidades da grande Toronto. A cidade é muito grande e a área metropolitana tem muitas opções que a gente não conhece e eu acho realmente que vou querer sair daqui.

Vamos ver as cenas dos próximos capílutos, né?!
Então é isso, que venha o segundo ano e que ele possa nos surpreender ainda mais, de preferência com coisas boas!!

Fuiz!

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