segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Minha maior mudança morando fora

Estava eu aqui escrevendo para minha cápsula do tempo (vou falar sobre isso em outro post) e precisei lembrar de uma coisa, mas que aconteceu na era pré pandemia, o que parece que faz muito tempo, então eu meio que não me lembro exatamente como algumas coisas aconteceram e a ordem, então vim no blog para ver se eu tinha escrito sobre para que eu conseguisse me lembrar. Achei o post (obrigada, Nicole do passado), fui ler e percebi umas coisas.

Eu sou uma pessoa que mudou MUITO desde que vim para cá. Acho que é esperado isso das pessoas, né, inclusive a Cath falou uma frase nesse fim de semana para mim que eu achei GENIAL e provavelmente me lembrarei dela eternamente (e se eu não lembrar, escrevo aqui e venho consultar kkkkkk): "é necessário sair da ilha para ver a ilha". Amei DEMAIS essa frase. Deixa eu contextualizá-la.

Nós duas saímos no sábado para bater perna no Yorkdale (shopping) - o que temos feito com muita frequência e eu tenho amado (sair pra bater perna, não ir ao shopping). Eu sentia muita falta de ter amigas para sair e poder ter um tempo fora de casa sem o Kalil - e quando nós estamos juntas a gente não para de falar um minuto, conversamos O TEMPO INTEIRO, a garganta até seca, e é muito fácil conversar com ela sobre tudo mas principalmente sobre nossa vida aqui, porque as duas são imigrantes e nosso histórico é muito parecido, então a gente se vê uma na outra, a gente sente/sentiu as mesmas coisas e se entende.

Estávamos falando sobre nossas mudanças depois que viemos para cá, sobre como lembrar do nosso tempo no Brasil é estranho, porque muito do que fazíamos e pensávamos já mudou muito, e que essa é com certeza a maior mudança que tivemos.
O brasileiro é muito crítico, julga muito, fala muito das pessoas e isso é o que mais incomoda a gente hoje dia.

Quando eu estava para ir ao Brasil, a Cath me preparou para as pessoas se sentirem livres e confortáveis para falarem do meu corpo, do meu cabelo e principalmente sobre meu peso. Isso sempre foi uma coisa que todo mundo fez, mas depois de três anos não vivendo isso, quando aconteceu foi realmente um incômodo engraçado.
É lógico que elogiar, falar como a pessoa está bonita é normal, e a gente faz mesmo, mas o brasileiro fala de um jeito diferente e constantemente se acha no direito de falar mal e dar opinião.
Eu sou da teoria (hoje em dia) de que se não for para falar bem, não fale nada, e hoje em dia eu me recuso a falar QUALQUER COISA SOBRE O PESO DAS PESSOAS. Magreza não tem que ser sinal de beleza e uma pessoa gorda não é feia.

Quero deixar claro que eu fui exatamente essa pessoa que hoje em dia me incomoda, a que tinha o discurso de que "tudo bem a pessoa ser gorda, mas ela tem que se vestir de acordo, não pode vestir isso ou aquilo".
Gente!!! Por que não??? E quem sou eu para ter opinião sobre a roupa e o corpo da OUTRA pessoa?

Eu já fui a pessoa que notava a roupa dos outros no shopping e comentava "como que aquela pessoa teve coragem de sair de casa assim? Não tem amigos pra falar pra voltar e se arrumar?". Sou inclusive a pessoa que achava ruim de o Kalil me buscar em casa de camiseta, e chinelo era motivo de brigar e falar "pelo amor de Deus! Chinelo???". 
Olha que absurdo! 
Hoje em dia que eu não ligo mais pra roupa que o Kalil sai comigo, o que importa é ele estar confortável, se ele vai de chinelo ou de regata não é da minha conta, mas vejo os efeitos do que eu fiz com ele.
Sempre que saímos ele coloca blusa de manga e tênis quando lá fora tá mil graus e um calor infernal, porque ele traumatizou com meu ideal de roupa pra sair quando a gente namorava. Eu tenho que falar pra ele "mo, vai lá se trocar, coloca camiseta porque está muito quente e você vai suar mais com essa blusa aí", ou então "vai de chinelo pro seu pé respirar um pouco, mo, ta muito quente" (disclaimer: faço isso porque sei que é o que ele queria, ta, não é porque estou decidindo por ele não).

Agora deixa eu explicar a frase "é necessário sair da ilha para ver a ilha".
A gente só consegue ver esse tipo de atitude que a gente tinha, e que os brasileiros ainda tem, porque a gente se afastou e mora em um lugar em que esse tipo de coisa não é aceito e não é normal. Eu tive que sair do Brasil para aprender que o que eu cresci achando ser o normal é, na verdade, muito errado e tóxico. 

E por que eu estou fazendo um post inteiro falando sobre isso?
Porque eu sofro com essas críticas e julgamentos até hoje em TUDO que acontece comigo.
Eu sou uma pessoa que se preocupa muito com o que os outros pensam de mim e muito disso é porque eu fui a pessoa que criticava TUDO e TODO MUNDO, então tudo o que eu faço, ou falo, ou visto eu penso que vai ter uma Nicole falando mal, chamando de ridícula, de sem noção.
Meu inglês eu considero horrível e eu fico insegura até hoje (e creio que sempre ficarei), porque sou a pessoa que falava "mas fulano mora fora há X anos e até hoje não é 100% fluente? Até hoje tem esse sotaque carregado?". Eu julgava o inglês DOS OUTROS, eu achava que o inglês DOS OUTROS não éra bom o suficiente (qual régua eu usava? A do meu julgamento mesmo).
Quem morreu e me nomeou a juiza de vocabulário e sotaque e fluência, gente? 
Mas mesmo que hoje eu seja uma pessoa mais decente e tentando sempre melhorar e evitar ao máximo em falar qualquer coisa sobre qualquer pessoa, eu não consigo controlar o que pensam e falam de mim, ne. Então me vejo constantemente me justificando sobre tudo o que eu faço.

Por exemplo, estou sem trabalhar e me pego o tempo todo me explicando para as pessoas COMO SE ISSO FOSSE DA CONTA DELAS!!!! 

Agora que vivo fora é que consigo ver como essa cultura julgadora brasileira não traz NADA de bom para ninguém porque a vida do outro não é da nossa conta.

Só um desabafo mesmo, pessoas. Acho que falei mil coisas e não consegui explicar bem o que eu queria.

Mas só pra finalizar esse post sem pé nem cabeça, vou passar para vocês meu lema e da Cath: DEIXA OZOTO!

Beijo, fui!

Então não vamos medir para os outros com as nossas réguas, combinado?


sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Não me sinto mais sozinha

 Quando viemos para o Canadá em 2017, aquele primeiro ano foi muito difícil, foi uma junção de tanta coisa e muita mudança ao mesmo tempo. Eu e Kalil tínhamos acabado de casar e fomos morar juntos pela primeira vez, eu deixei meus pais, a Mel, meus amigos, meu trabalho, minha língua, minha cultura e todo o resto para trás, então eu me sentia muito overwhelmed (o que acho que é meio que normal quando a gente sai da zona de conforto em todos os setores da vida de uma vez só).

Mas além de todas as essas mudanças que já não eram fáceis de lidar, eu me sentia muito sozinha, mais sozinha do que nunca me senti na vida. Sempre fui uma pessoa rodeada de pessoas. Meus pais sempre perto, meus amigos sempre perto e vir pra cá foi MUITO difícil. Outro dia mesmo eu e Rita conversamos sobre isso e chegamos à conclusão que aquele primeiro ano e a solidão que senti ainda são uma questão muito grande pra mim, ainda é algo que me dói e que tenho que superar.

Eu sou muito intensa e próxima das pessoas, eu me preocupo, eu cuido como posso, eu ajudo quando posso, mas é MUITO MARAVILHOSO quando sinto que eu não dou sem receber de volta, eu sinto esse amor de volta e é uma coisa das coisas mais maravilhosas desse mundo.

Nas semanas difíceis que tive pra trás, eu decidi dar um tempo do Instagram e ia ficar uns três dias fora. Acabou que não senti falta e me senti bem distante daquela confusão que não acrescenta em nada, a não ser na ansiedade e na confusão mental, então hoje faz duas semanas que estou longe (apesar de o Insta ainda estar lá).

Eu não avisei ninguém (só duas amigas que a gente troca meme todo dia) porque pensei que seriam só alguns dias, mas como se estendeu, algumas pessoas notaram minha ausência e vieram me perguntar no Wapp se eu estava bem e eu me senti tão bem e tão amada (o meu objetivo não era fazer as pessoas notarem minha ausência, não sou a pessoa que faz esse tipo de drama).

Paulinha me liga todo mês e ela me mandou mensagem perguntando quando poderia me ligar e eu pedi uns dias porque não estava muito bem. Ela entendeu, me deu conselhos para eu tentar me sentir bem e veio checar se eu estava bem uns dias depois, mesmo que ela tenha dois filhos pequenos em casa pra cuidar. Ela arrumou um lugar no meio do caos da vida para se preocupar comigo e isso me deu um quentinho no coração. Até veio falar que está com saudades de eu falar sobre o tempo aqui e mostrar a CN Tower que ela arrumou um ranço sem sentido.

Tata notou minha ausência e me perguntou se tava tudo bem e agora frequentemente me atualiza das fotos do Be que ela posta e me conta tudo o que anda acontecendo. O pequeno está crescendo tão rápido que é assustador. Ver que a Tata gosta de dividir o crescimento e desenvolvimento dele comigo me fez sentir super amada.

Flavinha (oi, Amiga) veio mais de uma vez conversar comigo e foi só com ela que eu me abri mais e que me ajudou muito. Como eu disse pra ela, não gosto de dividir minhas coisas, mas sempre que consigo me abrir tira um peso de dentro de mim enorme. E com ela eu converso constantemente sobre nossa série de livros (Trono de Vidro, MUITO BOM!!! Recomendo) que lemos junto e sobre um monte de coisas do dia a dia que é ótimo para nos deixar próximas não falando só sobre o que nos deixa mal.

A Laís (uma das meninas que avisei que sairia) veio checar como eu estava mais de uma vez também e foi ótimo conversar com ela. Ela é namorida do René e minha conexão com ela foi quase que instantânea. Geralmente a gente só fala sobre memes, coisas engraçadas e sem importâncias, mas sei ela se importa comigo assim como me importo com ela. Foi gostoso ela tirar um tempinho do dia dela pra vir falar comigo.

A Ju (a outra pessoa que avisei) veio falar comigo também me perguntando como eu tava porque era pra eu ter saído três dias do Insta e não abandonar ele lá pra sempre. Expliquei que a desintoxicação estava fazendo bem e ela disse que concorda que às vezes é necessário fazer isso, ela faria se pudesse (não faz porque ela trabalha com Instagram).

A Ana Paula notou minha ausência também e veio perguntar se estava tudo bem. Eu disse bem por cima que não estava e ela se colocou a disposição para conversar comigo sempre que eu precisasse de um ouvido, o que achei muito lindo. Ele é minha amiga de infância que recentemente nos aproximamos novamente e foi muito legal e especial. 

Então, esse post inteiro foi para mostrar o quanto sou feliz por não me sentir mais sozinha, por eu estar tão longe dos meus, mas que a distância física não significa nada se existe amor. Eu me sinto TÃO amada e isso pra mim é tão importante que quando me sinto mal tento sempre me lembrar que as pessoas se preocupam comigo e que eu faço falta, eu nunca estarei sozinha enquanto tiver pessoas que me amam mesmo de tão tão distante.

Not anymore.


Rainy day

Pra quem me conhece um pouquinho ou já passou mais de uma hora comigo com certeza já me ouviu falando que “eu amo calor, amo frio, amo neve, mas odeio chuva e blá-blá-blá”.

Porém ontem, por algum motivo, eu gostei da chuva.

Toronto está muito quente há muitas semanas. Tudo bem que estamos no verão e é esperado que esteja muito quente, mas esse ano o calor demorou muito pra chegar, apesar de que maio foi super quente com um presságio meio fajuto que o verão ia ser quente. O calor só chegou realmente há umas duas semanas, e que calor! Nuh!

Mas eu reclamo porque eu amo reclamar, não tem relação necessariamente com o calor, porque eu amo os dias quentes e de sol.

Bom, ontem estava MUITO quente e tarde começou uma super tempestade. Decidi ir pra varanda um pouco e aproveitar o clima fresco e o cheiro de chuva (que não teve pq morar no 15o andar nos priva do cheiro de terra molhada né).

Mas fui e senti uma paz gostosa. Claro que a música calma e tranquila que eu estava ouvindo influenciou.

Sentei no chão e me deixei ser molhada pelas quatro gotas que conseguiram adentrar minha varanda (ela fica numa posição e num ângulo que é difícil de entrar água). Mas tem muito tempo que não tomo banho de chuva voluntariamente (a gente amava fazer isso quando criança né), então deixar a chuva me molhar, sentada na minha varanda que eu tanto amo e ouvindo um estilo de música que me relaxa fez com que eu colocasse as coisas em perspectiva por meia hora e ver que nem tudo está perdido, ainda há alegria no meio desse caos que o mundo está.

Ps.: e tenho tentado me deixar levar pela correnteza, ouvi dizer que isso ajuda a gente a ter forças para remar para fora.





quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Sumi, desculpa

 Eu sei que não escrevo desde o início de maio e já estamos em agosto, mas apesar de muita coisa legal ter acontecido nesse meio tempo, eu não senti necessariamente vontade de escrever.

Ontem, conversando com o Marco, e aquela conversa inicial normal "E aí? Tudo bem? Como você ta?" eu percebi que dei uma resposta pra ele meio que automática, mas que bate diretamente com a forma que tenho me sentido. Respondi um simples "To", porque acho que é realmente como estou, sabe. Faz sentido? Talvez não, mas é como estou agora, porque não estou mal, mas também não estou bem. É como se eu estivesse apenas existindo. As coisas boas não estão tendo grande influência sobre mim no momento, e as coisas ruins não são nada mais do que mais do mesmo, então me sinto anestesiada e planando no mundo.

Que sensação mais bizarra, porque eu nunca me senti assim antes, eu sempre sou intensa nos meus sentimentos, mas tem tanto tempo que as coisas estão tão estranhas que entrei num estado esquisito de NADA. Tenho medo de esse ser o normal daqui pra frente para todo mundo. Eu sinto todo muito meio aéreo e meio indiferente, como se a merda fosse o novo normal e o bom fosse algo passageiro, que não vem pra ficar, então não vamos dar tanta importância.

Ontem me peguei pensando: e se nunca mais sair disso? E se meu destino é ficar em casa pra sempre, esperando alguma coisa boa acontecer pra eu me sentir bem, mas nada acontecer? Eu ficarei eternamente na espera? Porque não me agrada pensar que isso é o normal, sabe, eu preciso mais do que isso pra poder ter motivação pra viver. 

Continuo dormindo, escovando os dentes, comendo, tomando banho, socializando, mas é como se nada tivesse tanto sentido, é como se tudo o que eu faço tivesse uma dose de "pra quê", sabe?

Am I in a dark place? I don't know, but definitely I'm in a dangerous gray area.