terça-feira, 13 de março de 2018

O inglês como segunda língua

Quando eu cheguei aqui e até muito pouco tempo atrás, eu me sentia bem mal por não ter nascido em um país que tinha o inglês como primeira língua. Não que eu estou recusando o Brasil e blablabla, estou falando exclusivamente da língua.
Eu tinha (tenho e sempre vou ter) dificuldade com muitas coisas porque, como já disse em outro post, o inglês sempre vai ser minha segunda língua.

Canadá, país verdadeiramente de imigrantes, tem muita gente que não é daqui, mas que vieram de países que tem o inglês como primeira língua, então a adaptação não foi assim tão complicada e trabalhar, estudar, comunicar e mesmo fazer amizades não foi assim tão difícil, já que todos aqui tem que falar inglês de um jeito ou de outro.
Eu me senti muito frustrada por não ser uma dessas pessoas que nasceram emergidas na língua e tive que aprender tudo e ter muita vergonha de muita coisa. Não entender tudo o que falar, não conseguir falar tudo o que eu quero. É muito frustrante isso!

Porém, com o tempo passando e eu me sentindo aos poucos adaptada a esse país e a esse mixer de culturas, tenho me sentido bem privilegiada por ter o inglês como uma segunda língua. Isso porque, obviamente, eu tenho uma outra língua como primeira língua. Então eu posso me sentir mais rica nesse sentido, que saí do meu país para aprender uma outra língua aqui.
Entre muitas coisas novas que eu tenho aprendido vivendo fora do meu país, eu aprendi também a língua. 
Conhecimento novo é sempre muito bom e quanto mais melhor, ne, Amiga?!

Eu ouço músicas em português e espanhol e sem precisar consultar o tão amado e antigo Vagalume eu já sei sobre o que a letra fala. Eu não falo, leio ou escrevo em italiano, espanhol ou francês, mas essas línguas tem uma semelhança muito grande com o português, então eu sei que estou um passo à frente de aprender essas línguas que uma pessoa que apenas fala ingês está.

Ao inves de me sentir inferior de não falar inglês eu resolvi me sentir feliz por ter duas línguas no meu currículo agora. Eu não posso fazer discurso em inglês AINDA, mas me comunico com qualquer um e aprendi a ser grata por isso.

Síndrome do Urso Polar

Antes de vir para cá, eu pesquisei sobre muitas coisas e li muitos relatos de brasileiros que mudaram para o Canadá para me preparar psicologicamente para o que eu ia passar e para me precaver e evitar certas coisas.

A mais importante, na minha opinião, e que eu não abri mão foi de vir no verão canadense para que meu corpo fosse aos poucos se acostumando com a queda da temperatura, passando pelo outono, início do inverno e aí o inverno rigoroso.
Posso dizer que foi uma decisão bem acertada, tanto que o inverno não me matou tanto assim e eu não sofri mito com o frio.

Mas outra coisa que eu li foi sobre a chamada Síndrome do Urso Polar. É quando as temperaturas baixas e a falta de sol fazem com o que o corpo só queira dormir, não queira sair de casa e fique cansado e desanimado o tempo todo.
Pensei comigo: "Isso não vai acontecer comigo. Eu serei recém chegada e estarei muito feliz, vou querer aproveitar a cidade e o frio será só um detalhe."
Engraçado como a gente é burro e se superestima, ne!?
Eu entrei em uma TPM brava esse mês e por coincidência fiquei de folga do trabalho, então estive três longos dias em casa sozinha. Meu Deus!!!! Que três dias horrorosos!!!! Eu fiquei num baixo astral e numa depressão sem fim. Teve um dia que eu chorei tanto que desmaiei de tarde de tanto cansaço (e acordei com a cara inchada, óbvio).
A TPM passou mas o desânimo não. 

Cheguei a conclusão que só pode ser essa maldita síndrome. Eu não quero fazer nada, NADA MESMO. Estou num sono sem fim e numa preguiça de viver!

Para abater essa síndrome, a pessoa tem que se forçar a fazer as coisas. Ela tem que sair de casa, ela tem que se exercitar, tem que aproveitar qualquer pequeno sol que tenha (para se abastecer de vitamina D) e não pode se deixar abater.
Mas é tão difícil isso, porque é uma coisa física, não é apenas psicológica, sabe?! 
Sei tudo o que tenho que fazer, mas não tenho forças.

Porém, nos últimos dias eu tenho tentado de verdade.
Outro dia meu shift começava às cinco da tarde. Ao invés de eu sair de casa meia hora antes de começar meu trabalho, saí por volta das duas e fui bater perna. Fui em duas lojas e caminhei bastante. Foi um dia que me vi mais animada e mais disposta.

Ontem eu larguei serviço às três da tarde e fui em um supermercado super longe da minha casa (um metrô e um ônibus de distância) e também fiquei bem animada (mas cheguei em casa por volta das oito e capotei por duas horas na cama).

Só queria registrar que a falta de luz solar realmente é uma coisa que o corpo sente e ele reclama. Nas últimas semanas as temperaturas tem estado mais agradáveis, mas o tempo tem sido feio e com pouquíssimo sol.

Só acho que o frio poderia continuar mas o sol dar o ar de sua graça, porque o que atrapalha a vida não é a temperatura, mas a falta de luz do sol.

Beijo, people!

terça-feira, 6 de março de 2018

Let's talk about my English...

Quando eu cheguei aqui no final de agosto (quase sete meses! Nuh! O tempo voa mesmo), eu passei por uma fase muito difícil com meu inglês. Pensei que não ia conseguir e, mesmo tendo decidido não encarar uma aula de inglês, cheguei a cogitar porque a coisa estava feia para o meu lado.

Eu nem acredito como evoluí nesse tempo. Ainda tenho MUITO o que melhorar, lógico, até porque já estou ciente de que nunca terei aquele inglês fluente e natural como o português é para mim, porque minhas primeiras palavras foram em português, eu estudei a vida inteira em português, então sei que o inglês sempre será minha segunda língua.

Quando eu entrei no meu trabalho, a moça que me entrevistou me disse que eu começaria trabalhando no estoque (sem contato com clientes), mas que com o tempo, se eu quisesse, eles poderiam me colocar com atendimento, o que resultaria em mais horas e, consequentemente, mais salário. 
Eu pensei comigo: "Aham, tá bom que eu vou conseguir isso!".
No meu último shift de 2017 eu perguntei para ela se, no final das contas, minha contratação seria apenas temporária para a época dos holidays ou se seria permanente e ela me respondeu que seria permanente se eu quisesse, e eu disse que eu queria mais horas se possível e se ela poderia me chamar mais vezes. A primeira coisa que ela me perguntou é se eu estaria disposta a encarar atendimento, porque infelizmente o que aumentaria minhas horas seria o atendimento. Eu estava mais segura, mas não tanto ainda, mas como eu sou a única que estou trabalhando aqui em casa pensei "Tentar não vai me matar?", ne? Falei que sim, estaria sim. Eu já tinha largado tudo no Brasil para estar aqui, esse seria só mais um desafio.

Já estamos em março, meus shifts tem aumentado e eu tenho encarado bem o atendimento. Não estou perfeita e estou longe disso, até porque acho que meu problema também está com o atendimento em si e não apenas com a língua, mas estou melhor do que estava há um mês atrás e tenho certeza que daqui um mês estarei ainda melhor. 

É engraçado isso, porque eu vejo claramente a minha evolução e minhas pequenas vitórias diárias:

  • No início, quando alguém falava comigo, eu não conseguia entender direito e falava "Sorry?" para a pessoa repetir e eu olhar para ela, concentrar e tentar entender. Hoje em dia o meu "Sorry?" é para quando a surdez ataca, não tem ligação necessariamente com a língua e sim com meu problema auditivo (que os próximos já conhecem. Casamento da Tata e do Henrique está aí para provar isso).
  • Eu tive muito problema em mudar minha chave e alterar do português para o inglês instantaneamente sem me embolar. E isso parece besteira, mas tive várias situações com isso. Uma vez um casal de BRASILEIROS foram na loja e eu não consegui conversar com eles em português, eu não consegui me comunicar na minha língua com eles. Fiquei lá com cara de drogada sem conseguir me expressar com eles com português, só o inglês vinha na minha cabeça.
    Uma situação que até fui zoada foi uma vez que fui trabalhar conversando ao telefone com uma amiga do Brasil e quando cheguei dentro da loja, ainda com ela no telefone, não consegui cumprimentar um simples "Hi, guys!" com o pessoal. Soltei um "Oi, gente!" e todo mundo olhou para mim sem entender. Minha amiga riu muito.
    Hoje eu já consigo trocar a chave mais facilmente e naturalmente e eu tenho consciência disso.  No meu break eu costumo ler livro em português e quando alguém me interrompe e me pergunta alguma coisa eu já consigo responder facilmente em inglês. É realmente uma vitória muito grande.
  • Usar palavras simples no português que são normais para nós, mas que não é algo que se aprende em cursos de inglês é um desafio diário. 
    Para nós no Brasil é muito simples falar para alguém pegar uma calça jeans dentro da gaveta, ou dobrar essa camisa, ou pendurar aquele vestido num cabide, ne?! Mas vocês sabe como é gaveta em inglês? E o verbo dobrar? E cabide? Pois é! Eu tive que aprender, decorar e não ter vergonha de perguntar o que era aquilo que eles me pediram da primeira vez, porque eu nunca tinha ouvido aquela palavra na minha vida!! (gaveta é drawer, dobrar é fold e cabide é hanger (top hanger = cabide de camisas; bottom hanger = cabide de calças)). É uma vida difícil para estrangeiros.
Tudo isso pode parecer besteira, mas quando a gente está falando e aprendendo uma língua nova, a gente não tem que apenas entender o que aquela palavra significa, a gente tem que decorar ela, então é um exercício de memória muito grande, não é assim tão simples.

Então sei que tenho muito o que melhorar ainda, mas ver meu progresso me ajuda muito a não desistir, a saber que é difícil mas que eu estou dando conta. 

É gratificante e estou sentindo uma realização pessoal muito agradável. Todos deveriam experimentar isso uma vez na vida. É empoderador!!!

Fui, people! Beijo

Tchau, inverno!! Nos vemos no final de 2018!

Para quem disse que ia voltar a postar, hein... To de parabéns!
Mas estou aqui agora e é isso que importa.

Estamos no final do inverno, logo o frio está indo embora e podemos aguardar uma primavera florida e quente. Finalmente vou poder guardar o casaco de inverno, a bota de neve e os apetrechos de frio, certo?
ERRADO!

Fonte: https://www.theweathernetwork.com/ca/weather/ontario/toronto

Obs.: Não se deixem enganar pela temperatura prevista, ok?! O que importa realmente é a sensação térmica, porque o vento e o sol, por exemplo, influenciam MUITO na real temperatura daquele dia. Mesmo que a temperatura e o vento sejam os mesmos, estar na rua às duas da tarde com sol é diferente de sair do trabalho às sete da noite quando já anoiteceu.

Tá! Quero deixar claro que eu aprendi a amar o inverno e o frio. No Brasil eu sofria e ficava de mau humor quando a temperatura estava 20o, aqui quando está -1 eu estou feliz e meu corpo até aprendeu a suar dentro do casaco. 
Eu realmente aprendi a amar, até porque o frio está somente em áreas externas, dentro de QUALQUER coisa (lugares, transportes públicos, carros) é quentinho e agradável.
Mas já tem seis meses (outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março) que os pés estão cobertos (não dá pra usar sandália ou chinelo), as pernas estão cobertas, a cabeça está coberta (mesmo com temperatura positiva, tenta sair de casa sem uma touca para você ver se não perde a orelha congelada), o pescoço está coberto, os braços estão cobertos.
Eu sinto uma falta de sair de casa de camiseta, de short, de vestido, saia... e olha que não é o tipo de vestimenta que eu usava todos os dias no Brasil, mas como eu não uso há meio ano eu estou com uma saudade sem fim.

Quando eu estava pesquisando para vir para cá, eu vi muita gente comentando que no verão as pessoas ficam paradas nas esquinas só se deliciando com o sol e que é uma coisa esquisita de se ver, mas que com o tempo a pessoa entendia e começava a fazer a mesma coisa. Eu pensava: "hahahah que engraçado isso!".
Não é engraçado! É uma coisa que eu vou fazer COM CERTEZA! Ainda falta uns três meses para esse dia quente delicioso chegar, mas eu já estou ansiosa!

Quero deixar claro novamente que o inverno não me incomoda. Não é que eu esteja reclamando que o frio é muito frio, que está me atrapalhando, que eu estou sofrendo, nada disso. É como no Brasil quando está calor há muito tempo e tudo que todo mundo quer é uma chuva e um friozinho para usar um casaquinho para sair de casa. É apenas esse sentimento.

E não é só isso. Estou ansiosa para explorar a cidade no verão como quem mora aqui, sabe?! No verão a cidade promove muitos festivais, tem feiras nas ruas, tem bandas tocando, eu quero conhecer as cidades ao redor de Toronto e passar o dia sentada e observando a movimentação de todo mundo. Já tenho uma mini lista do que eu quero fazer quando os dias quentes chegarem.

Mas ao mesmo tempo que eu torço pelo calor, eu fico chateada que o frio e a neve vão embora. E o triste é que Toronto é uma cidade grande e não neva muito, então mesmo que eu veja na previsão que vai nevar amanhã, efetivamente vai cair mini coco branco de passarinho só e eles chamam isso de neve. Eu quero é NEVE MESMO! É tempestade de neve! 
Mas está quente para a neve e frio para voltar a colocar pernas e pés para jogo.

Enquanto os dias de verão não chegam e os dias Frozen estão ainda mais longes, a gente continua trabalhando feliz e agradecendo por estar vivendo o sonho que sonhou, ne?!

Beijo!