sábado, 16 de junho de 2018

Desabafo

Chega um momento na vida de qualquer imigrante que ele não se sente em casa no lugar que ele escolheu para viver, mas ao mesmo tempo ele não se imagina voltando para o lugar de origem. Eu cheguei nesse momento agora e costumo falar que estou no limbo, ou seja, eu não tenho mais um lugar.
Isso porque eu tenho sentido muita falta de muita coisa no Brasil que eu nunca vou ter aqui em Toronto, mas ao mesmo tempo eu tenho coisas aqui que eu nunca terei no Brasil e que são cruciais para minha vida no momento.

Eu não paro de pensar ultimamente o quanto eu tenho raiva do Brasil, porque se ele fosse bom para mim o suficiente, se ele me desse tudo aquilo que eu tenho direito (como saúde, transporte público eficiente, educação com qualidade e PRINCIPALMENTE segurança) eu não tinha saído, largado tudo para trás e começado de novo do zero.

É muito difícil ter que viver os 18 anos novamente com quase 30. Eu tive que largar um emprego qualificado e que eu tinha um salário muito bom para trabalhar PARA UM CARALHO em uma loja. Não estou dizendo que é emprego bosta, estou dizendo que é um trabalho muito físico com um salário muito baixo. O custo de vida em Toronto é altíssimo!!!! É exorbitante!!!! Vocês não tem noção do quanto.

Eu super me preparei psicologicamente antes de vir, eu sabia muito o que eu teria que viver quando eu chegasse aqui e eu sabia que teria que começar do zero, mas isso não quer dizer que a vida se tornou fácil quando eu vi que era realmente tudo aquilo que eu esperava. 
Não estou reclamando da vida que eu estou vivendo, mas sei que a vida que eu quero para mim não é essa. 
Tem quase dez meses que a gente chegou aqui e só agora a realidade caiu efetivamente, só que ela caiu atrasada e veio num peso de duas toneladas na minha cabeça.
A família está longe, os amigos estão longe, a cultura e os costumes estão longe. Essa distância dói num grau que não dá para colocar em palavras. 

Eu que sei que tudo vai melhorar. As coisas estão melhorando, todos os dias.
O Kalil começa a trabalhar na segunda, o meu inglês melhora diariamente, mas no momento nada disso é o suficiente para alegrar 100% os dias.

Está difícil, não vou negar.
Não quero parecer ingrata, afinal eu estou vivendo aquilo que eu sonhei, mas a gente sabe que qualquer sonho que vira realidade ele vira realidade, e de sonho resta apenas um terço.

Eu sei que no Brasil eu reclamava muito da vida, do país e de tudo, e que estar aqui reclamando da vida parece que sou apenas a pessoa mais infeliz e reclamona do mundo, mas não é bem isso. 
A distância é uma coisa que eu nunca imaginei que sentiria. Eu não sou muito sentimental, não sou muito de sentimentos e de coração, eu tenho um jeito meu de ser. Eu cheguei e fiquei muito de boa com a "realidade" que estava vivendo. As pessoas me perguntavam de saudade e eu respondia "saudade? Não sou desse tipo de pessoa que sente saudade". Aí veio a vida e me fez perder uma pessoa e doeu tanto que eu descobri o que é saudade. É algo que dói, é uma ferida que lateja e que parece que nunca vai sarar.

Conversei com minha madrinha uns dias atrás e ela disse que essa dificuldade de lidar com a distância melhora depois de dois anos e que hoje, ela que mora nos EUA há mais trinta anos, nunca mais pensa em voltar a morar no Brasil.

Sei que essa sensação ruim vai embora, mas até lá vou aqui vivendo cada dia e sempre focando no motivo pelo qual larguei tudo e vim começar de novo tão longe.

Obs.: acho que esse texto ficou muito estranho de ler, eu sei, sorry.

2 comentários:

  1. Não ficou estranho de ler... Ficou real!
    Essa é a realidade neh... Tudo na vida tem seus prós e contras... E a gente vê muito do glamour de viver fora por aí e pouco se fala (ou talvez falem, mas não nos interessa tanto neh) sobre a parte difícil...
    Eu sabia que, assim como aconteceu comigo, ao sair do Brasil vc descobriria uma nova Nika... Mas isso vai te fazer crescer... Mas realmente como vc disse até lá o caminho é longo e dificil... Estou aqui sempre! Sei que não é a mesma coisa, mas não vamos deixar o vínculo se perder... É muito facil de acontecer, somos engolidos pela rotina do dia a dia... E ano que vem estarei aí CUSTE O QUE CUSTAR, nem que seja só para te dar um abraço! Bjo grande!

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    1. Essa nova Nika é mais chorona que a antiga Nika, viu?! E eu vou te falar: não está muito agradável não hahahah Mas as coisas vão melhorar, eu sei que vai. E eu sei que você está sempre aí para mim, amiga. Eu conto muito com você, pode ter certeza disso. E sobre 2019, estou contando os dias!!!!

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